Na procura de fotografias para novos trabalhos, encontrei uma série delas que me fizeram viajar no tempo. Umas ainda eu não existia, mas dizem-me muito pelas estórias que estarão por ser contadas, outras, muitas mesmo em que eu sou a estrela do espectáculo, até determinada idade, claro que depois vem aquela chamada "idade do armário" em que não permitimos que nos fotografem e acabamos por fiacar terrivelmente mal nessas.
Mas, são as minhas fotografias de bebé que me fascinam, em especial as que não me consigo lembrar, gostaria no fundo de sentir o que senti naqueles anos tenros de vida, de reviver como se fosse um filme tudo de novo, de encontrar os vestidinhos, os sapatinhos, os chapéus, malinhas, tudo o que tive e que se foi dando gradualmente ao longo dos anos. Na verdade olho para essas fotografias e amo aquele bebé, inocente, pequenino, de faces rosadas e rechonchudas. Olhos grandes de quem quer ver tudo, tal como dizem os meus pais "sempre com um olho no burro, outro no cigano". Aí de facto não mudei...sou uma verdadeira capta conversas alheias desde sempre, e oiço bem dizem que tenho "ouvido de tísica" embora não o seja claro! Mas a verdade é que tenho estes dois sentidos bastante apurados desde pequena, talvez por isso consiga lembrar-me de situações que vivi muito pequenina.
Uma vez lembro-me perfeitamente do acontecimento, estava a brincar no salão, e uma das minhas brincadeiras preferidas era ver o que estava dentro das gavetas e mexer em tudo...Ora a dada altura encontrei uma moeda pequenina de 1 escudo, decido então por na boca e engolir, mas a dita ficou encravada no meio da minha traqueia....comecei então a espernear e aí a minha mãe entrou em pânico, comecei a ficar rouxa, viraram-me de cabeça para baixo e bateram-me nas costas, e lá vem a dita moeda boca fora. Tinha 1 ano e meio e lembro-me bastante bem da decisão de colocar a moeda na boca e engolir. Why not?
Foi uma grande aflição para os meus pais mas para mim foi uma recordação...é giro pois!
Lembro-me também da primeira vez que parti a cabeça na infantil, tinha 2 anos. Andava no colo de uma menina mais velha que se achava minha mãe, de repente vem um menino que embate nela e pimba, Ana para o chão, bate com a cabeça no lancil e pronto uma choradeira e sangue....tanto sangue! Foi a loucura total! A sorte é que o meu jardim de infância era no Hospital onde a minha mãe era enfermeira, chamaram-na e lá me foram coser a cabeça pela primeira vez. Daqui lembro-me bem do frio do spray que espalharam na minha cabeça, depois dos mimos...
Aos 3 anos parti de novo a cabeça, foi giro também. Havia no jardim escola um baloiço comprido, que levava uma quantidade de meninos, dois ficariam nas respectivas pontas, os restantes no meio. A menina Ana adorava e adora baloiços, e mesmo sózinha aventurava-me numa das pontas desse baloiço, no meio assim não dava....o baloiço começa a ganhar balanço, daquele balanço bom....tanto balanço que caí para trás, ficando sentada no chão. Até que o baloiço passa e o parafuso inferior parte-me a cabeça. Aí doeu mesmo, bolas! Vem uma auxiliar, sabendo-me traquinas e diz "bem feita" até ver a quantidade de sangue que por ali jorrava...Pois bem feita....agora ficas coberta de sangue! Lá chamaram a maca, a mãe, o médico, bloco comigo, lembro-me da cama coberta de sangue, da agulhinha a coser a cabeça, da pastilha gorila de mentol que me deram e engoli de imediato, sufucando de novo (!). Depois o médico simpático encheu uma luva de ar e eu fui toda contente com a luva gigante para a escolinha. Miminhos...brincadeiras, e lá vai a Ana subir para cima de um pneu, o pneu rolou....a Ana caiu e foi o balão mágico que salvou a minha cabeça de regressar ao bloco! Meu Deus, se os meus filhos me fizessem isso hoje em dia dava-me qualquer coisa!!!
Não era uma criança terrorista, mas era muito traquina, brincalhona, faladora, extrovertida, aventureira e destemida. Parti mais vezes a cabeça, muitas farpas de madeira do escorrega romperam as minhas pernas...mas aqui estou. Meio avariada às vezes mas inteira!
Também me lembro de uma situação gira, quando tinha 5 anos, ainda não sabia ler nem escrever, mas já era professora, tinha alunos e um escritório todo organizado onde nada faltava! Ora no meu escritório havia o dispensador de fita cola, furador, agrafador, folhinhas, canetinhas, carimbos, bloquinhos, imitações de facturas e de notas,clips, tudo o que se poderia ver num escritório da época. O agrafador Bambi azul turquesa, nesse dia despertou-me interesse. Será que agrafa o dedo? Hum...não sei vamos ver. Olha agrafa mesmo. E fiquei com um agrafe no indicador esquerdo. Não doeu propriamente agrafar, doeu foi tirar o agrafe e assim fiz um belissimo rasgão, presente no meu dedinho até hoje. Adoro-o e ao agrafador também guardado na caixa dos "especiais". Não chorei, constactei o que queria saber, tem qualidade ou não? O dedo ou o agrafador????
Bem são apenas pequenas situações sem importancia para quem as lê, para mim são tesouros da memória, que hoje se encontram ainda bem vivos, mas amanhã não sei, e assim vão ficando registados, para um dia alguém recordar....
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